segunda-feira, 23 de maio de 2011

Amizade


I


Eu o via como uma pessoa especial. E ele era.
Éramos confidentes e próximos, mesmo se estivéssemos distantes.
Nossos relacionamentos fluíam – eu com meus namorados, ele com suas namoradas – começando e terminando, num processo cíclico tão comum, mas que poucas vezes era observado por terceiros tão de perto.
Desabafei diversas vezes, mostrei o que de mais profundo e pessoal há em minha personalidade, sem me preocupar, pois sabia que ele entenderia.
E o inverso também aconteceu.
Eram momentos que me faziam feliz. Saber que havia alguém no mundo com quem eu pudesse contar mesmo nas horas mais tristes, e estar ali incondicionalmente presente, para o que ele precisasse.
E não eram só esses momentos que me deixavam feliz, mas saber que eles poderiam existir já era o suficiente. Me fazia enxergar a vida de uma maneira mais bonita. Dava um sentido a tudo isso.
Passavam-se anos, e cada vez mais o sentido da palavra amizade – e conseqüentemente do amor, no aspecto mais amplo - se tornava claro. Eu queria poder ajudar quando ele precisasse e não haveria recompensa maior do que vê-lo sorrir.
Algo me dizia que ele também sentia isso por mim e por isso ele era especial.
Pessoas especiais são aquelas que te consideram especial.

II

Um dia eu me vi precisando de ajuda. O tipo de ajuda que ele sempre prestava. Porém dessa vez eu não podia contar com ele.
Ele era a única pessoa da qual eu podia pedir esse tipo de ajuda – sentimental, amorosa – e se ele não podia me ajudar, eu me sentia desolada.
Era exatamente assim que eu me sentia.
Desolada.
Acabada.
Ele com certeza saberia a coisa certa a me dizer. Mesmo que não fosse consolador, seria a verdade. Abriria meus olhos.
Às vezes nos apaixonamos pela pessoa errada e era ele quem me fazia enxergar quando isso me acontecia.
Às vezes nos apaixonamos por alguém e perdemos a noção da realidade. Fazemos coisas estúpidas. E ele sempre me alertava quanto a isso.
Mas não dessa vez.
Eu não podia me abrir, não podia confessar.
E isso me torturava. Não estava acostumada a não ter com quem contar. Às vezes ele me perguntava o que me afligia e eu não era capaz de dizer. Disfarçava, inventava alguma coisa, mudava de assunto. Talvez ele nem desconfiasse.
E quando ele não estava por perto eu me pegava pensando nele.
Pela primeira vez eu esperava receber algo dele que não fosse apenas um sentimento puro e sincero.
Eu queria tê-lo e ser dele.
E queria principalmente que ele soubesse disso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário